Paulo Herkenhoff, Rio de Janeiro 2018
Nascido no Japão, criado no Brasil e desabrochado na França, Flavio-Shiró, de onde a vista alcança, é dessas figuras raras, como artista e ser humano. Não é apenas um dos mais catárticos pintores em atividade no país, como é dos poucos a usar a obra para transmitir conceitos sobre arte e idéias acerca dos homens e seu estado de coisas.
Miguel de Almeida, Rio de Janeiro 2008
Flavio-Shiró às vezes se descreve como uma arvore banian que teria raízes em três continentes: o Japão das suas origens e da sua tradição familiar, o Brasil e a França. Do Japão, lhe vem uma sabedoria ancestral e esse domínio do movimento. As luzes do Brasil e da França impregnaram sua pintura, uma tropical vertical e invasiva, às vezes ofuscante, a outra suave e acariciante. Destas influências cruzadas provém a sua obra atual, sempre uma voz misteriosa, matizada, feita de transparências e de concomitâncias.
Vera Pedrosa, Paris 2007
…Talvez o gênio de Flavio-Shiró, em tanto que pintor, está na sua capacidade em reconciliar questões de figuração e abstração. O artista consegue explorar os pontos fortes das tradições tanto oriental quanto ocidental, sem subordinar uma à outra. …Como se invocasse figuras enigmáticas do inconsciente coletivo da humanidade, ele permite ás suas formas de representar contos arquetípicos de emoções, movimentos e transições universais.
Nancy Shalala, Toquio 1993
…Arte, para quem a faz como Flavio-Shiró, motivado pelos mergulhos abissais, é o oposto ao lúdico, ao entretenimento, ao prazer – para se tornar mais que nunca processo de cognição, apreensão e dominio do real.
Olívio Tavares de Araujo, São Paulo 1985
Flávio-Shiró encara a tela como algo vivo. Antes de lançar sobre o linho sua alquimia de matérias, gosta de amarfanhá-la, de sujá-las. Sobrepõe camada sobre camada, gesto sobre gesto, até que a tela fique corrugada, chaga aberta. Para todos aqueles acostumados com a arte geralmente asséptica dos japoneses, a pintura de Flávio-Shiró íncomoda, perturba, desorienta. Não é, de fato, uma pintura apaziguadora, decorativa, não é nenhum arco-íris. É uma pintura que pede reflexão.
Federico Moraes, Rio de Janeiro 1986
A gestualidade, o traço pulsional se atolaram em muitos artistas nas areias movediças da repetição e do signo desencarnado. Com Flavio-Shiró, o gesto, irrigado pelas águas selvagens do mito, não cessou de florescer numa ampla, verde e viva cosmogonia, numa tapeçaria na qual cada fio seria um grito, um acasalamento, um nascimento, um combate de gigantes, como foi lá nessa Amazonia real e sonhada onde se entrelaçam sem fim dilacerando-se voluptuosamente a cobra e a flor, o dia e a noite, o seio e a formiga voraz, a morte e a vida.
André Laude, Paris 1983
..Pesadelo e canto primevo, o mundo de Flávio-Shiró é indefinível e inquietante. É preciso domá-lo para que ele se acrescente ao conhecimento dos que o contemplam. Um oculto Odilon Redon vagueia no fausto dessas cores tão impregnadas de sonhos palpáveis que transfiguram a matéria da pintura e emprestam-lhe a sua substância magica.
Jacques Michel, Paris 1983
Flávio-Shiró… pertence à família dos Goya, dos Soutine e dos Bacon: ele é movido por um sentimento dramático, trágico mesmo, que o leva a despir as formas de toda aparência complacente para exibi-las como os despojos duma implacável indagação.
Ferreira Gullar, Rio de Janeiro 1981
… Todavia, é necessário insistir no fato que sua obra, além dos ritmos e das relações de força, é carregada de um conteúdo significativo, de uma mitologia pessoal extremamente fascinante, onde as divindades guardas de templos se unem talvez a extraordinária fauna amazônica.
Gerald Gassiot-Talabot, Paris 1965
Flávio-Shiró compreendeu que a arte não vive senão de verdade, que sua pintura não existiria se ele não insuflasse sua propria vida, suas idéias, seus sentimentos, tudo o que fez dele um homem, um artista diferente dos outros.
Georges Boudaille, Paris 1962
Sem dúvida, esta arte impetuosa, de substância lírica refletindo um pensamento por igual intuitivo e irracionalista explica-se mais pelo atavismo do autor que pela evocação de uma linha filosófica como a de Kierkegaard. Ele pertence a uma geração efervescente, de alternativas difíceis e mesmo cruciais a esta altura do século, chamado a suceder a esplêndida floração de caracteres complexos e heterogêneos da categoria de Fautrier e Fontana, de Pollock e Dubuffet.
Walter Zanini, Londres 1959
LIVROS
Flavio-Shiró, Edições Pinakotheke, 2018
212 p. ISBN 978-85-7191-103-1
O ano do dragão, Flavio-Shiró
Contra Capa, 2012
96 p. ISBN 978-85-7740-131-4
Promenades au Louvre en compagnie d’écrivains, d’artistes et de critiques d’art
Jean Galard, Edition Robert Laffont, 2010
1278 p. (pp.112-13 p.360)
ISBN: 978-2221106549
Flavio-Shiró pintor de três mundos 65 anos de trajetória,
Instituto Tomie Ohtake, 2008
208 p. ISBN 978-85-88728-10-3
Flavio-Shiró, Miguel de Almeida, Coleção Arte de Bolso,
Lazuli Editora, Companhia Editora Nacional, 2008
127 p. ISBN 978-85-7865-012-4
Flavio-Shiró, Salamandra, 1990
192 p.